Além de ter sido o mês mais letal da pandemia no Estado, março de 2021 também registrou, pela primeira vez na história, mais mortes do que nascimentos no RS. Na região, a situação não foi diferente. Nas 44 cidades de cobertura do Jornal NH, foram 2.182 falecimentos e 1.676 nascimentos. Ou seja, o número de mortes foi 30% superior. Os dados são do Portal da Transparência do Registro Civil. Mais de metade dos municípios repetiu o fenômeno individualmente e alguns casos chamam a atenção. Entre eles, Nova Petrópolis, onde o total de óbitos foi 181% maior do que o de nascimentos. Enquanto que 16 novas vidas foram registradas na cidade, outras 45 foram interrompidas no mesmo período.
Depois do município da Região das Hortênsias, seguem na lista Três Coroas (177%) e Imbé (171%). Das principais cidades dos Vales do Sinos e Paranhana, o cenário também ocorreu em Campo Bom (79,7%), Igrejinha (51,1%), Ivoti (33,3%), Novo Hamburgo (13,2%), Parobé (78,2%), Sapiranga (20,9%) e Taquara (160%).
Cenário se repete
Para o virologista e professor da Universidade Feevale Fernando Spilki, trata-se de um cenário mais amplo, que demonstrou os mesmos reflexos aqui. “Infelizmente, se repete em nível local o que se observou no Estado e no País. Esse panorama de mortes em excesso e o declínio populacional mostram o tamanho da tragédia da pandemia neste último período.”
Comparados com o mesmo período do ano passado, os dados saltam ainda mais aos olhos. Na região, em março de 2020, o número de nascimentos foi 51% superior ao de mortes. Das 44 cidades, apenas cinco registraram mais mortes do que nascimentos, o que confirma a situação inédita das últimas semanas.
De acordo com o presidente da Associação dos Registradores de Pessoas Naturais do Rio Grande do Sul (Arpen/RS), Sidnei Hofer Birmann, é inevitável relacionar o quadro ao novo coronavírus. “A situação está impactando nos números, não resta dúvidas. Se pegamos os óbitos por outras causas, estão mais ou menos na mesma proporção nos anos anteriores. Mais uma vez isso demonstra que a crise que estamos vivendo é muito grave”, relata.
Mais nascimentos
Por outro lado, Dois Irmãos, Estância Velha e Montenegro conseguiram manter a taxa de nascimentos mais alta do que a de mortes, por exemplo. Foram -13,5%, -4,2% e -34,5%, respectivamente, menos óbitos comparados aos índices de natalidade.
Nos números gerais, além da quantidade de mortes ter aumentado 216% na região, analisando março de 2020 e 2021, o número de nascimentos também chama a atenção. Isso porque, apesar do contexto, houve um crescimento de 16,7% nos índices. Foram 1.436 nascidos no terceiro mês do ano passado e 1.676 em março deste ano.
Nos casos de cidades sem registros, tanto de mortes como de nascimentos, o presidente da Arpen/RS frisa que a principal motivação é o fato de estes locais não possuírem cartórios de Registro Civil das Pessoas Naturais (RCPN). Com isso, a documentação acaba sendo feita em cidades vizinhas. Araricá, Lindolfo Collor, Morro Reuter e Riozinho fazem parte desta lista.
Abril segue em alta e cenário pode se repetir
Na análise de períodos anteriores, Birmann explica que o equilíbrio entre mortes e nascimentos era maior. “Normalmente, eram 30%, 40% a mais de nascimentos. Sempre nesse patamar. Tanto que, até no somatório do ano passado, o Rio Grande do Sul teve mais nascimentos do que óbitos”, diz. Março é que foi fora da curva. “Um fenômeno inesperado”, resume.
Para o mês de abril, as perspectivas são de que se mantenha a tendência. “Está complicado e a nossa avaliação é de que essa situação pode se repetir. Temos ainda um número muito elevado de internações, pessoas em Unidade de Terapia Intensiva (UTI), e acreditamos que possa se manter com mais óbitos neste mês”, afirma o registrador.
Segundo Spilki, é o resultado tardio das infecções pela doença. “Os números de óbitos tendem a se estender por um período prolongado, mesmo após o arrefecimento momentâneo do número de casos, em virtude de internações prolongadas e de efeitos mais tardios e sequelas da doença”, analisa.
Até a tarde de ontem, eram mais de 3 mil gaúchos hospitalizados em UTIs, sendo 2.086 com confirmação de Covid-19 e outros 114 com suspeita da doença.
Em todo o Estado, 24% mais óbitos neste mês
O Estado registrou mais óbitos do que nascimentos pela primeira em março. Foram 15.844 mortes e 12.006 nascimentos, uma diferença de 24%. Dados da Arpen/RS mostram que a margem já vinha caindo ao longo do tempo, mas acelerou vertiginosamente com a pandemia. Em 2003, no início da série histórica, esta diferença era de mais de 100%, baixando para 83% na década de 2010 e abrindo 2020 na casa dos 60%. Baixou para 47% em março de 2020.
Mobilização por saúde
A marca histórica de mais óbitos do que nascimentos, que é um fenômeno mais amplo e atribuído principalmente à pandemia, mobiliza a atenção de autoridades. Minimizar a disseminação do novo coronavírus é uma das principais ações, juntamente com o atendimento e orientação à população.
Em Nova Petrópolis, foram 45 mortes causadas pela Covid-19, das quais 25 ocorreram em março deste ano. “As causas do agravamento, ao nosso ver, são o surgimento das novas cepas, mais contagiosas, e um certo relaxamento das pessoas com relação aos cuidados em dezembro, janeiro e início de fevereiro”, afirma o vice-prefeito e secretário municipal de saúde e assistência social, Martim Wissmann. Para combater a pandemia, Wissmann ressalta ações relacionadas ao atendimento da população, incluindo investimentos extras para a área de saúde.
Fonte: Jornal NH