Em tempos de pandemia, quando o distanciamento social se faz necessário para combater o avanço da COVID-19 em todo o mundo, as ferramentas digitais seguem sendo aliadas até que o contato presencial possa ocorrer de forma segura. Lançado em 2018 pelo Poder Judiciário gaúcho, o Aplicativo Adoção manteve a conexão entre pretendentes habilitados no Sistema Nacional de Adoção (SNA) e jovens aptos a adoção do Rio Grande do Sul. A ferramenta completa 3 anos nesta terça-feira (10/8), já tendo concretizado 20 adoções. Outras 32 crianças e adolescentes estão em aproximação ou já em estágio de convivência com suas possíveis novas famílias através da plataforma.
Mesmo com as dificuldades impostas pela situação atípica, o Rio Grande do Sul é o terceiro estado que mais fez adoções no Brasil, de acordo com o SNA, a partir de janeiro de 2019. Foram 873, ficando atrás apenas de São Paulo (1.771) e Paraná (1.197). E o App Adoção vem sendo um grande aliado nessa caminhada.
Amor sem distância
Quando João Vitor foi entrevistado para o App Adoção, em Porto Alegre, ele contou que o seu sonho era ser mecânico. O menino, na época com 14 anos, nem imaginava que quem o ajudaria a conquistar essa meta seriam seus próprios pais adotivos. Kleber e Amélia Barea, de São Paulo, assistiram ao vídeo dele pelo aplicativo, em janeiro de 2020, e se encantaram.
Eles vieram a Porto Alegre para uma audiência no Foro. “A Juíza pediu para ficarmos para iniciarmos o estágio de convivência com o João. Estávamos com a roupa do corpo. Mas meu esposo respondeu que sim, que ficaríamos. Tudo estava tenso por conta do Coronavírus (era início de março de 2020). Fomos ao shopping, compramos roupa, alugamos apartamento e, na véspera de conhecermos o João, o Foro fechou e precisamos voltar sem encontrar ele”, lembra Amélia.
Com a pandemia, os moradores de Hortolândia, região de Campinas, e João passaram pelo processo de aproximação à distância. Foram dois meses de encontros virtuais, por meio de chamadas de vídeo. Em maio, o casal veio ao RS para buscar o filho. “Então, no dia 5 de maio de 2020, fizemos a última chamada de vídeo, quando ele falou que estava com a mala pronta, ansioso para vir. No dia seguinte embarcamos para POA. Ver o João Vitor se despedindo dos amigos da casa lar e poder dar um abraço no nosso filho foi um momento de emoção incrível e indescritível”, diz Amélia.
A adoção do adolescente foi uma mudança no perfil, pois o casal buscava por uma criança. O contato de Kleber e Amélia com famílias que adotaram adolescentes, por meio dos grupos de adoção tardia, ajudou a fazê-los repensar: “Nos cadastramos no aplicativo. Em um dia especial, me deparei com as fotos e o vídeo que o João gravou. Meu coração disparou muito e eu tive certeza de estar assistindo as fotos e o vídeo do nosso filho”, conta a mãe.
“Nossa experiência com a adoção do João Vitor foi maravilhosa do início ao fim. Ter esse acesso através do aplicativo até as vias de fato, para conhecer o João, foi maravilhoso, apesar de todo o contratempo da pandemia. Quando tivemos autorização da juíza, não pensamos duas vezes e fomos lá buscar nosso menino”, relata Kleber.
“Desde que eu estava na casa lar, meu sonho era ter uma família. E agora estou aqui, com meu pai, minha mãe e meus animais. Estou muito feliz”, diz João Victor. O adolescente que, no vídeo do Aplicativo, contou que queria ser mecânico, hoje cursa Mecânica Automotiva ao lado do pai.
Dados
A pandemia causou uma redução no número de adoções pelo SNA no Rio Grande do Sul. Em 2019, foram 436 concretizadas. Em contrapartida, em 2020, foram 293 e, até o momento, neste ano, 144. Para a titular da Coordenadoria da Infância e Juventude do RS (CIJRS), Juíza-Corregedora Nara Saraiva, a plataforma digital não só coloca em contato pessoas separadas pela distância física como também auxilia na mudança do perfil desejado pelos pretendentes que, assim como Amélia e Kleber, inicialmente queriam uma criança.
“O habilitado baixa o aplicativo e pode verificar fotos e vídeos das nossas crianças e adolescentes. Ele muitas vezes se sensibiliza e revê o seu perfil e muitas vezes busca a adoção a partir deste contato visual”, avalia a titular da Coordenadoria da Infância e Juventude do RS (CIJRS), Juíza-Corregedora Nara Saraiva.
Mais pretendentes do que jovens para adoção
De acordo com o SNA, o Rio Grande do Sul tem 3.420 crianças e adolescentes vivendo em uma instituição de acolhimento, ou seja, que foram afastados das famílias biológicas como medida emergencial. Desses, 348 jovens foram destituídos do poder familiar e estão aptos a adoção.
Quanto ao gênero, o número é equilibrado: são 1.709 são do sexo feminino e 1.711 do sexo masculino. Em relação à idade, são 482 de zero a 3 anos; 341 entre 3 e 6 anos; 412 de 6 a 9 anos; 446 entre 9 e 12 anos; 691 entre 12-15 anos; 976 entre 15-18 anos; 63 acolhidos entre 18-21 anos e 9 com idade não informada.
Muitos desses jovens vivendo em instituições de acolhimento possuem irmãos: 589 têm 1 irmão; 370, 2 irmãos; 183 com 3 irmãos e 181 têm 4 ou mais irmãos. No que se refere a doenças e deficiências, 238 apresentam alguma doença detectada; 153 possuem deficiência mental; 16 com deficiência física e 31, deficiência física e mental.
Na outra ponta, 3.777 pessoas habilitadas no sistema nacional. Isso porque a maioria deseja crianças de até seis anos: 1.011 buscam uma criança de até 2 anos; 1.603 até 4 anos e 1.430 até 6 anos. 592 pretendentes aceitam crianças de até 8 anos; 222, até 10 anos; 85 até 12 anos; 45 até 14 anos; 25 até 16 anos e 9 até 18 anos. A etnia branca é a mais procurada, por 2.522 pretendentes, 1.484 buscam crianças pardas, 594 amarelas, 301 indígenas, 22 preta e 2.325 aceitam todas as etnias. Em relação à quantidade, 3.134 buscam uma criança/adolescente; 1.770 desejam adotar duas; 96 buscam 3 e apenas 25 declaram aceitar 4 ou mais crianças/adolescentes.
Neste momento, 676 crianças e adolescentes estão em estágio de convivência e 195 estão vinculados a famílias que podem vir a ser as suas futuramente. Para adotar uma criança ou um adolescente é preciso ter 18 anos, ter condições econômicas e psicológicas e ser pelo menos 16 anos mais velho do que o jovem a ser adotado.
Fonte: TJ/RS