Um levantamento dos cartórios de Registro Civil do Rio Grande do Sul mostra uma mudança no perfil das vítimas da Covid-19. De fevereiro para março, o percentual de mortes de idosos com mais de 60 anos caiu de 78% para 71%. Já entre pessoas com 59 anos ou menos subiu de 22% para 29%.
A tendência persiste em abril. Até esta quarta-feira (21), conforme o Portal da Transparência, 64% dos óbitos são de pessoas com mais de 60 anos e 36% de pessoas com idade inferior, o que indica que, cada vez mais, pessoas mais jovens morrem da doença, enquanto que as faixas etárias mais elevadas são mais preservadas.
Idosos
A mudança é ainda mais perceptível se considerado o percentual de mortes proporcional de cada faixa etária. Os idosos entre 90 e 99 anos representavam, em média, 6,6% do total de mortos pela Covid-19 desde o início da pandemia. Em março, passaram a representar 3,5% dos óbitos e, nos primeiros dias de abril, 2,5% dos falecimentos.
A faixa entre 80 e 89 anos, passou de uma média de 24,7% do total de mortos para 15,2% em março e 9,1% em abril.
Já os óbitos entre a população de 70 a 79 anos passou de uma média de 25,4% do total de óbitos para 24,6% em abril.
Para o presidente da Associação dos Registradores de Pessoas Naturais do Rio Grande do Sul (Arpen-RS), Sidnei Hofer Birmann, esta tendência sugere os primeiros efeitos da vacina nos grupos dessas faixas etárias.
“Com a vacinação, há essa redução nos óbitos de idosos, e o crescimento nas mortes da população mais jovem”, aponta.
Jovens
É claro que a faixa etária de pessoas com idades entre 60 e 89 anos são aquelas mais vulneráveis, proporcionalmente, pelo coronavírus no Rio Grande do Sul. Mas, se no começo da pandemia, elas concentravam a maioria dos óbitos, este cenário começa a se alterar, com o aumento proporcional de mortes entre pessoas de faixa etária de 20 a 59 anos.
Os óbitos de pessoas com idades entre 20 e 29 anos, que até o mês de março representavam, em média, 1% dos falecimentos, passaram a ser quase 1,2% em abril, o que representa um crescimento de 77% no número de mortes nesta faixa etária em relação à média do período.
Já a quantidade de óbitos de pessoas entre 30 e 39 anos, que representavam, em média, 3% das mortes, subiram em abril para 4,2%, crescimento de 38% no número de mortes por Covid-19.
A faixa de pessoas entre 40 e 49 anos foi ainda mais afetada. Até janeiro de 2021, representavam 4,9% dos óbitos causados pela doença. Em fevereiro, passaram a representar 7,2%, em março, 8,6%, e, nos primeiros dias de abril, já representam 10,5% do total de mortos pela doença no RS.
E entre a população com idade de 50 a 59 anos, que representava, em média, 10% do total de mortes pelo coronavírus no primeiro ano da pandemia, em fevereiro passou a representar 10,8%, em março saltou para 15,3% e, nos primeiros dias de abril, representa 18,3% do total de mortos por Covid-19.
A infectologista da Sociedade Riograndense de Infectologia, Andréa Dal´Bó, acrescenta outra razão além da vacinação: os cuidados e o isolamento que pessoas mais velhas assimilam com mais facilidade.
“As medidas de distanciamento social, que muitos idosos realmente têm seguido e têm levado a uma redução do impacto na mortalidade”, afirma.
Vacinação e exposição
O chefe do Serviço de Infectologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), Eduardo Sprinz, acredita que, como a vacinação depende de pelo menos um mês para a aplicação das duas doses e mais um período para o desenvolvimento da imunidade, ainda é cedo para determinar que ela é a grande responsável pela diminuição de casos graves entre idosos. Ele aponta outros dois fatores a serem considerados.
“Mais gente jovem ficou doente. É claro que são menos vulneráveis, mas a quantidade foi tão grande que certamente alguns adoeceram de forma mais grave. E outro aspecto é que, quando esgotam os suscetíveis, aqueles idosos que menos conseguiram se proteger e já foram atingidos pela Covid, aqueles que persistem ou permaneceram são de alguma forma mais resistentes ou menos expostos”, afirma.
O educador físico Eduardo Abreu conheceu o que a doença causa independentemente da idade. Ele perdeu, no começo deste ano, a avó, a mãe e o irmão, com idades entre 26 e 88 anos. Restou em casa apenas o pai, que teve sintomas leves.
“A nossa casa é muito grande. Ela era pequena para nós cinco. Agora só eu e meu pai, é enorme. Parece uma cidade, e muito vazia. Tu tá jantando com a tua família, um mês depois, não tem mais família. É bem triste”, lamenta.
Ainda com a dor das perdas latente, ele alerta aos jovens como ele de que um pequeno descuido em cuidados simples pode ter uma consequência irreversível.
“Acontece uma vez só, não volta mais. A gente perde uma mãe, perde um irmão, perde uma avó, a família fica destruída por uma coisa que é simples. Cara, se tu aguentou um ano, tu aguenta dois anos. Depois tu volta a sair, não precisa ir agora, sabe? O mundo não vai acabar agora. Vai acabar se tu fizer errado”, afirma.
Fonte: G1RS