O Rio Grande do Sul registrou, em janeiro de 2021, o menor número de nascimentos para o mês desde 2002, quando a Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen) começou a fazer o levantamento. Foram registradas 10.684 crianças, 14,53% a menos do que no mesmo mês de 2020, quando nasceram 12.501 bebês.
O número ainda pode aumentar, já que todos os nascimentos ocorridos em território nacional deverão ser registrados dentro do prazo de 15 dias, prorrogado por mais 45 dias caso a mãe seja a declarante. Porém, confirma a tendência de que muitos pais decidiram adiar o planejamento de paternidade e maternidade durante a pandemia. (Veja o gráfico)
O estudo foi feito com base nos registros de nascimentos realizados nos 419 cartórios de registro civil.
“Por mais que os casais passassem mais tempo juntos dentro de casa, talvez a preocupação com o futuro tenha sido fator determinante na ideia de ter um bebê”, comenta o presidente da Arpen, Sidnei Hofer Birmann.
A topógrafa Rita Richardt, de 35 anos, descobriu que estava grávida de Luísa em fevereiro de 2020. No mês seguinte, já estava trabalhando em casa e cumprindo todas as recomendações de isolamento em Canoas, na Região Metropolitana de Porto Alegre.
Ela conta que encarou o começo da pandemia com a esperança de que tudo estivesse controlado até o nascimento da filha. Com o tempo, porém, percebeu que não seria uma gestação normal.
“A falta de conhecimento gera o medo. O que o vírus pode causar para as gestantes? O que pode causar para o feto? No que implica o nascimento, a questão da amamentação, tudo eram dúvidas que começaram a preocupar”, recorda.
O enxoval foi todo comprado pela internet. O curso de maternidade que ela pretendia fazer presencialmente foi substituído por garimpo na literatura. E até mesmo um problema de saúde — Rita perdeu parte da audição do ouvido esquerdo, ainda sem diagnóstico definitivo — transformaram tudo que ela havia imaginado.
“Em função da Covid, tive que optar por não ficar circulando, não procurei auxílio médico imediato e, até hoje, não consegui descobrir a origem e perdi a tentativa de fazer um tratamento imediato. A gente ficava naquele nervosismo de ir a um hospital fazer exame, procurar um médico em uma época como essa. Quando tive condições, era irreversível”, relata Rita.
A solução que ela encontrou foi encontrar um equilíbrio entre os cuidados de saúde e aproveitar o período de sentir a filha se desenvolvendo. Em 1º de setembro, Luísa nasceu, saudável, e Rita crê que tudo valeu a pena.
“Já está com cinco meses, e nasceu neste mundo. Isso é o normal para ela. É mais uma questão minha, como mãe, de saber como era o mundo antes e não aguentar esperar isso passar para fazer coisas com ela que me deixariam feliz. O mundo dela é esta casa, ela está feliz e é isso que importa”, conclui.
No Brasil, os números de nascimentos em janeiro também tiveram queda, chegando a uma diminuição de 15,1% em relação ao mesmo período do ano anterior. Foram registrados 207.901 nascimentos em janeiro de 2021, ante a 244.974 ocorridos no mesmo mês de 2020.