Dados foram obtidos com base no cruzamento entre os CPFs dos pais nos registros de nascimentos e de óbitos feitos nos 419 cartórios de Registro Civil do estado desde 2015. Três das 567 crianças não haviam nascido ainda quando perdeu um dos pais para o coronavírus.
Com os índices da pandemia em queda, começam as contabilizações dos efeitos da Covid-19 na vida da população. E um dos mais sentidos, que agora pôde ser calculado, é o número de pequenos órfãos atingidos pela morte precoce dos pais.
Pelo menos 567 crianças de até seis anos de idade perderam um dos pais para o coronavírus entre 16 de março de 2020 e 24 de setembro deste ano, aponta a Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen Brasil). Os dados foram obtidos com base no cruzamento entre os CPFs dos pais nos registros de nascimentos e de óbitos feitos nos 419 cartórios de Registro Civil do estado desde 2015, ano em que as unidades passaram a emitir o documento diretamente nas certidões de nascimento.
“Durante a pandemia, os cartórios de Registro Civil contribuem continuamente, por meio do Portal da Transparência, para dimensionar os impactos da Covid-19 no Brasil, inclusive com a estimativa de quantas crianças no país perderam os pais para a doença, um dado extremamente importante para auxiliar os órgãos públicos e autoridades no amparo dessas crianças”, destaca o presidente da Arpen no RS, Sidnei Hofer Birmann.
No Brasil, segundo a Arpen, ao menos 12.211 crianças de até seis anos de idade ficaram órfãs de um dos pais no mesmo período devido à Covid-19.
Segundo os dados levantados, 25,6% destas crianças não tinham completado um ano. Outros 18,2% tinham um ano de idade, 18,2% tinha dois anos, 14,5% tinham três anos, 11,4% tinham quatro anos, 7,8% tinham cinco anos e 2,5% já haviam completado seis anos.
Além dessas, outras três (0,5%), no Rio Grande do Sul, e 223 (1,8%), em todo o país, não haviam nascido quando os pais morreram.
São Paulo, Goiás, Rio de Janeiro, Ceará e Paraná foram os estados que mais registraram óbitos de pais com filhos nesta faixa etária.
‘Estamos lutando’
A pequena Isabely Vitória, de apenas sete meses não chegou a conhecer a mãe. Silmara da Silva Campos, de 20 anos, morreu de Covid-19 em abril deste ano em Coronel Bicaco, no Noroeste do Rio Grande do Sul. A bebê agora é criada pelos avós.
“Foi muito pesado. No dia que a Silmara faleceu estava completando um ano da morte de outra filha minha. Foi o que mais me abalou. Fora uma prima e outros amigos que perdemos também para a Covid. Mas estamos lutando”, conta o avô de Isabely, Silvio Pinheiro de Campos.
Apesar de Isabely ter nascido prematura, não contraiu a Covid e está bem de saúde. “Ela está crescendo bem, se alimenta bem, tem uma saúde 100%. Espero que corra pra muitos e muitos anos”.
Silvio e a esposa Selma criam a menina como pais e pretendem contar a história da mãe quando ela crescer.
“Quando ela crescer, quando ela entender a situação da vida, a gente pretende contar que aconteceu isso [com a mãe]. Eu acredito que ela estaria muito orgulhosa. O sonho dela era ter esse bebê, e a gente tá mantendo esse sonho e vai manter ainda se Deus quiser por muito anos”.
Fonte: G1RS