Carú respira o alívio de ter o seu verdadeiro nome e gênero oficializados em cartório
Aos 25 anos, Carú Montero Rozin sente que nasceu de novo. Com um sorriso de orelha a orelha e com a nova certidão em mãos, ele agora respira o alívio de ter o seu verdadeiro nome e gênero oficializados em cartório.
O jovem é a primeira pessoa transexual não-binária a conseguir a retificação da certidão de nascimento em Passo Fundo. Desde 2018, o Cartório de Registro Civil do município realizou a retificação de 62 pessoas trans do masculino para o feminino ou vice-versa, mas até então, nunca fora desse escopo. A sua identidade, ele explica, vai além da binariedade de gênero:
— Não me encaixo nessa dualidade. A forma como eu me sinto é neutra, não me sinto homem ou mulher, não preciso estar nem em uma caixinha, nem em outra.
A descoberta veio em 2018, quando ao assistir um vídeo online sobre diversidade, Carú conheceu o conceito de pessoa não-binária. Foi nesse momento que ele compreendeu, de fato, quem era.
— Meus olhos encheram de água, porque finalmente eu tinha entendido o que eu sentia, acendeu uma luz na minha cabeça. A partir daquele momento veio um peso e um alívio ao mesmo tempo — conta.
Desde março de 2018, a substituição do nome e gênero no registro civil é um direito da população transexual, independentemente de cirurgia de transgenitalização ou da realização de tratamentos hormonais, conforme decisão do Supremo Tribunal Federal (STF).
Fruto de uma família que ele define como “preconceituosa”, Carú enfrentou um caminho difícil até que a irmã, sua principal referência, pudesse aceitá-lo e compreendê-lo:
— Não foi fácil até ela entender que estava sendo um sofrimento pra mim, e ela podia amenizar me aceitando.
Apoio na rede pública de saúde
Um serviço essencial no percurso não só da retificação, mas também da busca por atendimento médico e psicológico, foi o Centro de Referência da Saúde da Mulher e da População LGBTI+ de Passo Fundo.
A coordenadora de saúde LGBTI+ da unidade, Talissa Tondo, é uma das profissionais que acompanha a trajetória de Carú, bem como de quase uma centena de outros pacientes atendidos no centro. A casa oferece serviços de enfermagem, psicologia, psiquiatria, endocrinologia, ginecologia, urologia e atendimento social para a pessoa e para familiares – tudo isso de forma gratuita e sigilosa.
— Nossa bandeira é de poder defender a diversidade dentro do que as pessoas são, mas também baseado nos princípios éticos, legais, médicos. Nossas condutas estão pautadas em protocolos de segurança clínica — destaca Talissa.
Ela pontua que embora haja certa lentidão nos trâmites burocráticos para conseguir a retificação, o processo em si não é difícil. Além disso, o centro oferece auxílio e orientações na hora de juntar toda a papelada necessária.
— Temos uma parceria com o cartório de Passo Fundo, que sempre foi muito aberto com a relação a essa temática. Nós encaminhamos um parecer social que isenta a pessoa da taxa de retificação, que não é barata.
Expressão na arte
O que começou como um hobby, hoje também é um trabalho desenvolvido por Carú, que encontrou na arte uma forma de expressar tudo aquilo que sente.
— Minha ideia é mostrar meus sentimentos e trazer a representatividade, mostrar as pessoas que costumam não se ver na arte. Quero trazer informação e romper essas bolhas. Ser trans não é fácil, mas também é uma das experiências mais lindas, e eu demonstro essa intensidade nas minhas artes — diz.
Serviço
Quem deseja fazer a retificação não precisa necessariamente frequentar o Centro e a relação de documentos pode ser solicitada no Cartório de Registro Civil.
Centro de Referência da Saúde da Mulher e da População LGBTI+
Endereço: Rua Lava Pés, 1903
Telefone: 3312-0484
Cartório de Registro Civil
Endereço: Rua Morom, 1120
Telefone: 3313-1964
Fonte: Gaúcha ZH