O Imparcial – Dia dos Pais sem presença paterna

A data comemorativa do Dia dos Pais tem a intenção de enaltecer a figura paterna, que seria responsável por ser uma dos pilares na criação de qualquer criança, o que não é realidade para muitos. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, são mais de 11 milhões de lares brasileiros compostos apenas por mães e seus filhos, sem uma figura paterna presente.

Os dados são apenas dados até conhecermos quem viveu e vive as consequências da ausência paterna. Como Bruno Gabriel Fernandes, estudante de publicidade, que teve pouco contato com seu pai e criou um sentimento de indiferença, como relatou em sua entrevista. “Meus pais me tiveram muito cedo e, naquela época, meu pai não me assumiu, chegou até duvidar da paternidade por minha mãe e meu pai não terem nem namorado”.

Gabriel explica melhor a sua relação com seu pai. Ele sabia quem era seu pai, mas era aconselhado pela sua família materna a não o procurar, e por isso diz que não sentiu falta da presença dele.

“Sempre soube quem era ele, mas ele nunca me procurou e minha família falava para eu não ir atrás, pois não precisava dele. Acabei crescendo sem sentir falta do meu pai, mas minha figura paterna com certeza foi meu avô materno, que esteve presente e sempre fez as coisas por mim. Com 12 anos meu avô veio a falecer, aí sim eu senti uma perda grande, desde então, não tenho mais uma figura paterna”.

80 mil crianças sem pai em 2020

Isso não seria um grande problema, se não fosse a realidade de mais de 80 mil crianças nascidas no ano de 2020 que tiveram registro apenas com o nome da mãe, segundo dados fornecidos pela Central Nacional de Informações do Registro Civil – CRC. Essas mais de 80 mil crianças fazem parte da maior porcentagem de registro sem nome paterno, compondo 6,31% de 1.280.514 milhões de nascidos, maior número desde 2018.

Um de nossos entrevistados, que pediu para não ser identificado, faz um contraponto à indiferença que o Gabriel nos mostrou, sentindo tristeza pela ausência do pai.

“Aos meus dois meses de vida, meus pais se separaram devido a uma traição do meu pai, que decidiu cortar contato. Aos meus seis anos, tive uma atividade na escola para pintar um presente e entregar aos nossos pais, mas quando cheguei em casa não tinha a quem entregar. Comecei a chorar muito e minha irmã quis me ajudar a achar meu pai”.

Nosso entrevistado conta que procurou e andou muito, até achar a casa dos seus avós paternos. Lá eles conversaram com seus avós e no meio da conversa o seu pai chegou, olhou para ele, o ignorou e saiu novamente.

“Meu pai sempre teve um padrão de vida bom, tivemos uma briga judicial para entrar uma ajuda da parte dele, para ajudar minha mãe. Ele até começou a pagar, mas depois se negou dizendo que não tinha condição, mas ele sempre esbanjava uma vida luxuosa. Depois dessa disputa, nunca mais tivemos contato. Sinto pena as vezes e uma tristeza, por ter tentado me aproximar e ter percebido que ele não quer fazer parte da minha vida”.

As consequências desse abandono são projetadas nas relações sociais quando as pessoas já são adultas. “Tenho problema de confiança e receio de ser abandonada, mas foi o que me fez ser mais forte e mais independente”, relatou nosso entrevistado.

Traumas psicológicos causados pela ausência

O principal ponto em relação ao abandono paterno são os traumas psicológicos que são gerados na criança.

São problemas que podem se manifestar desde criança ou somente na sua vida adulta, e é quando fica mais difícil de lidar com esses traumas.

O psicólogo Marcelo Neumann, que foi entrevistado pelo Diário de S.Paulo, destaca alguns pontos dos efeitos da ausência paterna.

“Há uma série de consequências, já que a criança fica à margem. Ela é diferente das outras pessoas e isso acarreta um comportamento diferente. Ela pode passar a ser agressiva, sentir insônia, apresentar dificuldades para aprender e até sua alimentação pode mudar. Isso é algo preocupante, pois os responsáveis pela criança precisam entender o que está acontecendo, pois ela é um ser totalmente dependente”.

Experiência sentida na pele

Algumas pessoas ainda levam com leveza esse assunto, ainda acreditam que sejam casos isolados. É por isso que eu Iago Monteiro, autor deste texto, decidi me incluir e contar o meu relato e um pouco da minha vida sem um pai presente.

“Fui resultado de um caso de jovens, que não levou a algo sério, por isso não me levaram a sério. Meu pai era de família mais simples e, por isso, minha família materna não quis que eu mantivesse tanto contato com ele. Mesmo assim vi ele algumas vezes durante a infância, coisa que não se repetiu durante a adolescência. O contato se tornou mais escasso assim que percebi que não recebia nenhuma ajuda de nenhuma forma do meu pai, apenas felicitações de aniversários. Senti muito a falta de um pai por ter poucas pessoas comigo, mas isso fez com que eu percebesse ainda mais o meu papel: independência”.

As vezes o abandono paterno pode causar mudanças nas características psicológicas das crianças, deixar traumas e criar problemas futuros. Mas tem pessoas que conseguem desviar disso e encontram seus pilares, sejam eles: seu avô que foi a figura paterna que você precisava, sua irmã e sua mãe que estavam com você o tempo todo ou simplesmente a sua própria evolução pessoal.

Fonte: O Imparcial